Neste aspecto pessoal, gosto de analisar principalmente os motores. Costumo buscar motores de baixa manutenção, confiáveis e simples.
A simplicidade muitas vezes acaba implicando uma manutenção reduzida devido, claro, ao menor número de peças móveis ou à durabilidade de alguns sistemas. Isso por consequência acaba tornando estes motores mais confiáveis ao longo do tempo.
Hoje em dia a norma são os motores com refrigeração líquida. Nos carros há muito tempo não se vê motores a ar. Nas motos estes ficaram restritos a projetos antigos ou a motos de baixa cilindrada.
Tive uma CBX 750 por um bom tempo e conversando com um amigo hoje sobre o tópico da confiabilidade, concordamos que o motor 747 da CBX é muito bom, porém falha em alguns pontos no quesito simplicidade de manutenção e confiabilidade.
Como já não tenho mais a CBX, vou comentar sobre o motor que acelero hoje em dia, um 1127cc SACS.
SACS - Suzuki Advanced Cooling System.

História
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Motores a ar tem uma limitação básica de refrigeração. Eles só conseguem ser resfriados quando o ar entra em contato direto com o bloco. Quando o motor está parado, a ventilação fica bastante comprometida.
Ainda que o motor esteja em movimento, fica difícil extrair grande potência deles pois a produção de calor acaba ficando muito maior do que o "vento" consegue tirar. E daí começam os problemas de desgaste e falhas.
No começos dos anos 80, Etsuo Yokouchi bolou o sistema SACS com inspiração em aviões da segunda guerra. Com motores radiais, os aviões sofriam de problemas similares de dissipação de calor. Para conseguir manter o motor bem refrigerado, alguns desses motores radiais tinham montados em seu interior pequenos bicos injetores de óleo. Estes injetores eram responsáveis por borrifar óleo refrigerado na base dos pistões e em outros pontos estratégicos. Nada melhor do que refrigerar um motor bem nos pontos onde o calor é produzido.
O Suzuki SACS usou o mesmo princípio de bicos injetores de óleo nos seus motores. O primeiro modelo que usou este sistema foi a GSX-R 750 1985. Na época a Kawasaki já tinha começado a usar motores com refrigeração líquida em sua linha concorrente (GPz 1000, GPz 900, GPz 750).
O desenvolvimento de tal sistema também pode ter sido motivado por problemas de confiabilidade na XN85, moto turbo da Suzuki.

Sistema SACS
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Como o óleo agora tem dupla função (lubrificação e refrigeração), os motores SACS tipicamente carregam grandes quantidades de óleo, juntamente com uma bomba de dupla-circuito: alta e baixa pressão.
O circuito de alta pressão é responsável pela lubrificação usual das peças. O de baixa pressão é responsável por levar o óleo até partes que retém altas temperaturas e que possuem refrigeração deficiente em motores a ar: cilindros, pistões, câmara de combustão etc.
Tudo isso é auxiliado por um radiador de óleo de tamanho razoável, montado à frente do motor. Alguns destes radiadores tem tamanhos comparáveis a de um radiador de água convencional.
Vista explodida do motor SACS

Circuito de lubrificação

Circuito de refrigeração (há jatos de óleo para os 4 pistões, cabeçote e transmissão).

Circuito de óleo pelo cabeçote

Simplicidade e confiabilidade mecânica (especificamente do 1127cc)
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1 - Apenas uma corrente!
Existe apenas uma corrente no motor, a de comando. O tensor é do tipo manual ajustável e não automático com mola. Apesar da praticidade de um tensor automático, ele vai acabar gerando manutenção no futuro. Com um tensor manual você pode dar os devidos ajustes e até prolongar a vida da corrente de comando.
O resto do motor é engrenado diretamente. Não há correntes secundárias de transmissão ou de "acessórios". O motor de partida (montado atrás da bancada de cilindros) é engrenado diretamente na ponta esquerda da árvore de manivelas. O alternador é montado atrás e à direita do motor de partida e também é engrenado diretamente pela embreagem. Portanto, não há corrente secundária pra dar manutenção. Também não há tensores secundários. O preço se paga no ruído do motor, ou na perda de dentes de engrenagens em casos mais extremos. Uma corrente tende a ser bem menos resistente do que uma engrenagem.
2 - Muito, muito óleo! E baixa temperatura de óleo.
Com a quantidade elevada de óleo, há sempre uma tranquilidade a mais quanto ao nível. No motor 1127cc são 4.2L por troca.
O sistema SACS também mostra sua eficiência em movimento. Num dia normal, rodando em estrada, a temperatura do óleo oscila entre 80C a 90C. Comparativamente, uma CB 450 roda a 90C a 100C (teste prático).
Os jatos de óleo de dentro do motor e o grande radiador colaboram para isso.
Motor em ação nas pistas. Detalhe para o tamanho do radiador.


3 - Alternador com regulador e retificador incorporados.
Não há regulador/retificador externo. Tudo isso é embutido no alternador, que usa escovas. As escovas podem ser compradas caso necessário. Rolamentos também estão prontamente disponíveis.
4 - Regulagem de válvulas por parafuso ou pastilhas.
Os modelos mais antigos usavam sistema de ajuste de folga de válvulas por parafuso, o que é simples e relativamente confiável.
Os mais novos usam ajustes pastilhados. Se há folga, é só trocar a pastilha e pronto.
Não há dutos especiais pra carregar os tuchos hidráulicos, tornando o cabeçote algo mais simples.
Os primeiros modelos usavam balancins duplos (8 para 16 válvulas). Os modelos mais novos usam balancins únicos (16 para 16 válvulas).
Além disso a corrente de comando recebe o auxílio de um mini-pinhão entre as duas engrenagens de comando. Uma espécie de polia para guiar e tensionar a corrente.
5 - Manutenção de cabeçote razoável.
Há variações entre mercados, mas algumas peças para um cabeçote de um motor SACS são mais em conta.
Algumas comparações:
Motor SACS 1127:
Comandos: USD 228
Balancins: USD 38
Retentores de válvulas: 16 iguais, USD 5
Motor 747 da CB 750/CBX 750
Comandos: USD 320
Balancins: USD 62
Retentores de válvulas: 8 de admissão (USD 4.50) diferentes dos 8 de escape (USD 8 )
6 - Retífica menos complicada.
Com a presença de menos penduricalhos, fazer um motor deste tipo é mais simples. Não tem muita coisa que pode dar errado se o mecânico for competente. Parafusos espanados são um dos grandes problemas de se mexer num motor da CBX 750.
7 - Disponibilidade de peças.
Como foi um motor consagrado e conhecido por sua confiabilidade mecânica, as peças para estes motores continuam disponíveis.
As peças de bloco são praticamente todas iguais entre todos os modelos. As juntas são um bom exemplo disto. As tampas são também compatíveis, apesar de haver diferenças de acabamento (fosco, brilhante, semi-fosco, prata).
Motores que usam o SACS
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Por fim, as máquinas que usam motores que adotam o sistema SACS.
400 (399cc): GSX400 Inazuma

600 (599cc): Bandit 600, GSX 600F


750 (749cc): GSXR750

750 (748cc): GSXR750 88~91, GSX 750F



1100 (1052cc): GSXR 1100

1100 (1127cc): GSXR 1100 89~92



1200 (1157cc): Bandit 1200

1400 (1401cc, bloco diferente): GSX 1400
